No país da Bolsa Família, os esportistas que têm chance de medalha no Rio receberão a "Bolsa Pódio", que poderá chegar a até 15.000 reais mensais. Para receber esse dinheiro, um atleta terá de aparecer entre os vinte melhores do mundo em sua modalidade

Na Olimpíada de Atlanta, em 1996, Brasil e Grã-Bretanha tiveram desempenho semelhante no quadro de medalhas. Desde então, os dois países investiram muito dinheiro para melhorar seus resultados nos Jogos Olímpicos - adotando, inclusive, estratégias similares, através de programas generosos de ajuda financeira a atletas de alto rendimento, quase sempre financiados pelo governo, ainda que indiretamente (no caso do Brasil, pelos patrocínios de empresas estatais; entre os britânicos, com uma fatia da arrecadação das loterias). Os resultados obtidos pelos dois países, no entanto, foram muito diferentes. No mês passado, brasileiros e britânicos fecharam suas participações nos Jogos de Londres separados por um abismo de dezoito posições no quadro de medalhas e 48 presenças nos pódios olímpicos. Além disso, os anfitriões ampliaram o número de modalidades que renderam medalhas, enquanto os brasileiros seguiram se apoiando nas mesmas apostas de sempre (judô, vôlei e vela, por exemplo). Dentro de quatro anos, será a vez de o Brasil receber a competição - e, na tentativa de seguir o caminho dos britânicos e subir na classificação dos Jogos disputados em casa, a delegação brasileira será abastecida com o maior investimento da história do esporte nacional, um pacote que somará 1 bilhão de reais e tentará colocar o país entre os dez primeiros colocados do quadro geral.

O programa, bancado pelo governo federal, será lançado pela presidente Dilma Rousseff numa cerimônia marcada para as 15 horas desta quinta-feira, em Brasília. Intitulado "Plano Brasil Medalha 2016", ele ampliará de forma radical a distribuição de recursos aos candidatos ao pódio nos Jogos do Rio, pagando inclusive os integrantes das comissões técnicas dos atletas olímpicos. O investimento bilionário permitirá o pagamento de um novo tipo de benefício aos esportistas - no país da Bolsa Família, os esportistas que têm chance de medalha no Rio receberão a "Bolsa Pódio", que poderá chegar a até 15.000 reais mensais. Para receber esse dinheiro, um atleta terá de aparecer entre os vinte melhores do mundo em sua modalidade - e de estar habilitado a participar da Olimpíada, é claro. O Bolsa Pódio começará a ser pago a partir do ano que vem. O objetivo é fazer a equipe brasileira sair da 22ª colocação em Londres-2012 para a décima posição na Rio-2016. Para se ter uma ideia do que isso significa, a Austrália, que fechou o "top 10" nos Jogos deste ano, conquistou 35 medalhas, sete delas de ouro (mais dezesseis de prata e doze de bronze). O Brasil trouxe 17, sendo três de ouro (além de cinco pratas e nove bronzes). O plano se estende aos esportes paralímpicos. Nos Jogos Paralímpicos de Londres, o Brasil foi o sétimo colocado no quadro. No Rio, o objetivo é ficar entre os cinco melhores.
Leia também: A aposta britânica para deixar de ser um Brasil nos Jogos

Potencial - O pacote bilionário será usado não apenas para bancar a preparação dos atletas e de suas equipes de apoio, mas também para construir novos centros de treinamento, comprar novos equipamentos e fechar novos convênios para desenvolver as modalidades olímpicas no país. Hoje, o governo banca o programa Bolsa Atleta, que repassa até 3.100 reais mensais para o esportista capacitado a disputar uma Olimpíada. Das 17 medalhas conquistadas pelo Brasil em 2012, dez foram obtidas por bolsistas. Entre os 259 atletas brasileiros que foram a Londres, 111 recebiam o benefício. No caso da Paralimpíada, a presença de beneficiários do programa era ainda maior: de 182 atletas, 156 recebiam ajuda do governo. Entre os 43 medalhistas, 85% ganharam a bolsa. No total, 4.243 atletas brasileiros recebem o benefício atualmente. O governo informa que o número total de beneficiários do novo programa só será conhecido no ano que vem, quando as federações de cada modalidade definirão a lista dos futuros beneficiados. As bolsas são concedidas para todo o ciclo olímpico, ou seja, um atleta receberá o benefício até a Rio-2016. Além do próprio esportista, poderão receber o benefício do governo os integrantes de sua comissão técnica - treinador, preparador físico, nutricionista e qualquer outro profissional que seja essencial para melhorar seu desempenho e transformá-lo num medalhista olímpico.

Com a inclusão dos treinadores e seus auxiliares na lista de beneficiários do programa, o Ministério do Esporte pretende reforçar as equipes multidisciplinares responsáveis pelo planejamento, treinamento e acompanhamento do atleta. O dinheiro também servirá para bancar a participação em competições nacionais e internacionais (e para viabilizar as viagens de treinamento e intercâmbio fora do país, além da aquisição de equipamentos e materiais esportivos de alta performance). O critério usado para decidir o pagamento do benefício - a inclusão do atleta entre os 20 melhores do ranking mundial de sua categoria - é uma tentativa de garantir que o dinheiro seja bem investido, ajudando a preparar os atletas com maior potencial (e, portanto, com maiores chances de sucesso). São características parecidas com as linhas gerais do programa bancado pelos britânicos desde 1996 - o país-sede dos Jogos de 2012 investiu fortemente na capacitação dos treinadores e preparadores, por exemplo. Ao formar novos núcleos de treinamento altamente especializados, os britânicos conseguiram formar uma geração olímpica bastante competitiva - em modalidades como o ciclismo, por exemplo, a preparação dos britânicos é considerada um modelo para todos os outros países. Resta torcer para que a aposta bilionária do governo brasileiro seja feita com a mesma eficácia - e que abra caminho para resultados tão bons.

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