DEU NO BLOG DE MARCELLO DEODORO !Dando continuidade ao nosso blog SÓ CASCA
trago aqui uma conversa que tive com uma
pessoa que possui grandes feitos em favor do Boxe Brasileiro. Talvez você, que
não seja do meio do boxe, até não conheça-o, mas os trabalhos que implementou
certamente já ouviu falar, como, por exemplo, os V Jogos Mundiais Militares,
onde a participação do prof. Deodoro foi decisiva para o boxe e condicionante
para medalhas olímpicas que vieram posteriormente. Diferente de outros mestres
e professores de artes marciais, professor Deodoro, é um homem discreto, fala
mansa e comedida, dá-nos quase a aparência de timidez, porém, ao ouvir suas
histórias logo, logo constatamos um homem de determinação monstruosa. Nossa
entrevista se deu numa calorenta manhã de fevereiro, tomamos café no Shopping
da Tijuca, RJ, e falamos sobre muitos assuntos. Espero que apreciem nosso bate
papo e COMENTEM!. Novamente renovo meus agradecimentos e a paciência
franciscana do prof Deodoro em aguardar a transcrição do audio desta
reportagem. 1. SÓ CASCA ! – Como o boxe entra na vida do Sargento Fuzileiro
Marcello Deodoro? 2. MARCELLO DEODORO – A Marinha e o boxe chegaram talvez
juntas em minha vida. A primeira vez que ouvi falar em boxe, foi meu pai,
falecido, era militar da marinha, marujo, gostava de mencionar o treinamento na
escola de aprendizes, um meio de soltar a pressão do treinamento militar, eu me
divertia com as histórias dele. Sempre havia muitas. E você sabe como são as
crianças, ainda mais se tratando de histórias que seu pai conta... depois o
cinema completou minha paixão, personagens como o Rock Balboa, posteriormente
acompanhei o surgimento do ídolo Mike Tyson sua ascensão. Na época que meu pai
era vivo eu já prometia não só que seria marinheiro como também praticaria o
boxe dentro da Marinha, meu pai alertava para nos meus sonhos o boxe não ser
tanta coisa, porque na vida dos marujos seu papel era pequeno, praticamente uma
recreação nos quarteis. 3. SÓ CASCA – Mas foi somente na Marinha que começou no
boxe? 4. MACELLO DEODORO – Não, em 1987 comecei no boxe, fora da Marinha, pelas
mãos do prof. Mendonça lá de Duque de Caxias. Ele tinha já na época uma visão
muito abrangente do boxe e desde então despertou minha curiosidade para o boxe
como um todo, de como o atleta deve se valorizar como um todo e não só
tecnicamente. Ele mencionava as dificuldades do atleta profissional, a
estrutura do boxe no Brasil, a rotina de se montar uma equipe. Abriu muitas
fronteiras para mim. Ele fazia apresentações com o finado prof. Santa Rosa,
eram torneios não oficias e eu participava, como boxeador amador. No início,
aparentemente eu tinha receio de tomar aquelas pancadas, mas, fui tomei gosto
pela coisa. O boxe me fez dar um upgrade em minha vida, dei um salto, um cara
que era meio tímido, que falava “eu não posso” e no boxe você “pode” porque vai
se superando a cada treinamento. 5. SÓ CASCA – na Marinha como foi ? 6.
MARCELLO DEODORO – Em 1989 entrei para a marinha, fiquei um tempo no limbo,
comprovando o que realmente meu pai afirmava, mas apesar das dificuldades
iniciais, resolvi se não dentro, tentar uma equipe de boxe fora da Marinha.
Para isso por volta de 2000 e 2002 entrei em contato com a Federação Estadual
de Boxe do Estado do Rio de Janeiro – FEBRJ para fazer um curso, lá tive
orientações e daí eu criei uma equipe, a Usina Boxe. Em 2003 sagrei-me primeiro
colocado no curso de treinador da FEBRJ, ascendeu mais ainda a chama do boxe em
mim. 7. SÓ CASCA – onde ficava esta equipe? 8. MARCELLO DEODORO - Essa equipe
ficava no morro do Borel, sem querer nesse projeto, de forma meio acanhada fui
tendo contato e fazendo amizade com várias pessoas do boxe. Fiz uns cursos com
Peter Otãno, com o Paco Cubano que foi treinador da Seleção Brasileira de boxe
de 2003 a 2006, cursos de preparação física, tudo para aperfeiçoar o meu
treinamento e de meus alunos. Essa fase de participação em cursos e
treinamentos fora da Marinha vai até minha participação como treinador no Clube
Montanha, no Alto da Boa Vista Tijuca, RJ. 9. SÓ CASCA – Quando surge a
participação nos Jogos Militares? 10. MARCELLO DEODORO – Por volta de 2008, a
FEBRJ entrou em contato comigo para dizer que haveria nas forças um torneio
esportivo de âmbito mundial, se referiam aos V Jogos Mundiais Militares de
2011. Mencionaram que um oficial (depois vim saber ser o comandante Oswaldo
Guilherme SCHROETER) estava procurando a FBERJ para obter muitas informações
sobre boxe, então o pessoal da federação como já conhecia o meu trabalho,
alertou ao comandante que havia um sargento fuzileiro que era instrutor de boxe
e ficaria mais fácil para ele obter orientação comigo. Pronto, aí foi à base de
tudo. Pouco tempo depois estabeleci um longo contato com o comandante Schroeter
que desde o início ele decidiu que eu poderia dar uma colaboração para o evento
na área do boxe como treinador. Posteriormente essa minha colaboração também se
desdobrou para a própria organização do evento. 11. SÓ CASCA – Antes de
prosseguir o senhor poderia explicar para os leitores o que são os Jogos
Militares Munidas? 12. MARCELLO DEODORO – Claro Os Jogos Mundiais Militares são
um evento poliesportivo criado pelo Conselho Internacional do Esporte Militar e
acontecem a cada quatro anos, sempre no ano anterior à realização dos Jogos
Olímpicos. Começou em 1995 na Itália, na época foram cerca de 4.000 (quatro
mil) atletas de 93 (noventa e três) países. É um evento importantíssimo não só
para as Forças Militares Mundiais como para o esporte e também a economia dos
países onde ela é sediada. 13. Só Casca – Certo e daí como boxe foi atribuído a
Marinha se o senhor afirmou que ele estava confinado ao papel de recreação de
marujos? 14. MARCELLO DEODORO – Com os Jogos Militares as coisas não seriam
mais as mesmas. De fato, anteriormente o boxe não era estruturado, desde 1917,
era pura e simplesmente uma forma dos marujos extravasarem o estresse. Havia
uma previsão de que além do boxe, o judô, o taekwondo e a esgrima seriam os
esportes de combate do V Jogos Mundiais Militares, contando com essas
atividades esportivas, tínhamos no total eram 21 modalidades e elas seriam
fatiadas entre as forças armadas, ou seja, cada uma ficaria com sete. O fato de
ser uma mera tradição esportiva entre os Marujos e que as outras forças não
tinham ninguém qualificado para assumir o treinamento dos atletas foi
suficiente para que no rateio das modalidades esportivas, o boxe ficasse com a
Marinha. 15. SÓ CASCA – De fato não havia mesmo nenhum lutador, treinador que
pudesse assumir a responsabilidade pelo boxe? 16. MARCELLO DEODORO - Até onde
pude comprovar em 2008, os militares que haviam trabalhado ou tinham alguma
experiência no boxe dentro da Marinha, não estavam mais na ativa, por outro
lado, havia outros que até era atletas de boxe, mas não tinham como comprovar
cursos, diplomação, enfim reconhecimento de entidades oficiais como a FBERJ,
naquela época eu já tinha tudo isso, deu credibilidade para mim no projeto e
confiança a Marinha, através da pessoa do Comandante MIRANDA, para assumir a
responsabilidade do boxe perante o Exército e a Aeronáutica. 17. SÓ CASCA –
Como foi então o seu trabalho de treinamento da equipe? 18. MARCELLO DEODORO –
O comandante Miranda foi responsável EM INTERMEDIAR com o Comitê de
Planejamento Operacional (CPO) nos V Jogos Mundiais Militares, em conversa com
ele afirmei que se era realmente para eu contribuir faria isso a fundo. Além de
missão como militar eu encarei aquilo como o desafio de minha vida, daí por
minha própria sugestão, meu ingresso no Centro de Educação Física Adalberto
Nunes, na av. Brasil, subúrbio do Rio de Janeiro. Este centro nucleia todas as
atividades esportivas da Marinha - CEFAN. Só assim eu poderia realmente
colaborar, porque eu trabalhava num Batalhão Operativo e lá eu não poderia ter
tempo nem muito menos as ferramentas para desenvolver o trabalho. O problema é
que lá não tínhamos equipamentos e atletas para realizar o treinamento.
Comandante Miranda observou o quê foi feito em outros países e resolveu adotar
modelos vitoriosos, como o Italiano. Há muitos anos eles contratam atletas
militares, participam da formação inicial, recebem uniformes e ingressam na
vida militar como atletas. Então visando compor os quadros dos V Jogos Mundiais
Militares foram abertos concurso através de editais para contratação de atletas
de alto rendimento, neste concurso vieram: SARA MENEZES (ouro em 2012); DIOGO
SILVA, enfim atletas quem ingressaram em 2009 e fizeram sucesso nas Olimpíadas
de 2012. Desses atletas que foram recrutados, cerca de nove ficaram até hoje na
Marinha, à exceção FELIPE MOLEDAS, e CLEBER DE OLIVEIRA. Nesse gancho eu trouxe
EVERTON LOPES (Campeão Mundial pelas 64 kg); ROBENILSON DE JESUS; ROBSON
CONCEIÇÃO; PEDRO LIMA (campeão pan-americano). De modo que o trabalho que eu
fiz inicialmente com o professor Mendonça chegava até ali. 19. SÓ CASCA – Então
na verdade os boxers da Marinha vinham todos de fora da caserna? 20. MARCELLO
DEODORO – Não, estes que foram contratados eram como matrizes do grupo, havia
ainda outros atletas já integrantes desde sua origem não só da Marinha como das
outras Armas. É importante esclarecer que o fato da Marinha ser a incumbida de
treinar os atletas de boxe nos V Jogos Mundiais Militares, isto não impedia que
militares do Exército ou da Aeronáutica pudessem participar desta modalidade
esportiva na competição. Tínhamos a premissa básica de que o guerreiro tinha
que ser aproveitado, fosse ele da força que estivesse, organizando a modalidade
esportiva ou não. Assim, um soldado do exército habilitado no boxe não era
impedido de treinar no CEFAN que era organizado pela Marinha. Enfim, a divisão
nas Forças Armadas Brasileiras para os V Jogos mundiais Militares foi de
gestão, o guerreiro iria representar o Brasil e não uma força específica, o
importante era ser o melhor atleta militar, não importava a cor de sua farda.
21. SÓ CASCA – Como vimos esses atletas depois foram vitoriosos até mesmo fora
dos V Jogos Mundiais Militares, como a Sara Menezes (ouro em 2012), outros
frutos foram colhidos pelo boxe graças às sementes lançadas pelo seu trabalho
nesse evento esportivo? 22. MARCELLO DEODORO – Claro ! São inúmeros, porém vou
lhe citar um que certamente ainda terá consequências enormes não só para
Marinha como para o boxe no Brasil. Lá no CEFAN havia tradicionalmente um
torneio chamado ÁREA RIO, com equipes representativas de diversos quarteis da
Marinha. Nele competem anualmente atletas marinheiros de taekwondo, vôlei,
futebol, e várias outras modalidades. Só que não havia o boxe, mas em 2009
assessorei a Marinha para que o boxe integrasse o torneio. Enfrentamos também
problemas, como quem vai competir e os técnicos? Para isso foi necessário todo
um trabalho, criamos um estágio de técnicos militares de boxe, formei 13
técnicos, com oito equipes que competem anualmente desde 2009, geralmente
novembro. Foi muito gratificante ter realizado esse trabalho e sem sombra de
dúvida, não é exagero, haver oficialmente nos quadros da Marinha esse torneio
de boxe, o Área Rio, tem consequências enormes para o boxe no Brasil, mais
gente treinando, mais recursos, mais espaço para o esporte. 23. SÓ CASCA –Em
2008 o senhor já era recomendado pela própria FBERJ para tratar de boxe e hoje?
24. MARCELLO DEODORO – Hoje, graças ao trabalho que fiz nos V Jogos Mundiais
Militares e os que venho dando seguimento no CEFAN, o boxe nas Forças Armadas
Brasileiras está associado ao meu nome. Não só lá, acredito que tenho
importância no boxe brasileiro, ao menos acesso tenho acesso aos principais
canais. Mantenho amizade com inúmeras equipes, vou aos jogos abertos em São
Paulo, tudo o que você falar de boxe no Brasil eu conheço, atuo não só como
treinador, também como árbitro, sou formado pelo Carlão Barreto, Paulo
borracha, finado Paulo Rogério. 25. SÓ CASCA – Seu negócio é somente o boxe?
26. MARCELL DEODORO – Minha vida é o boxe, todavia isto não me afasta de outros
esportes de combate, estou atento a todos. Por exemplo, sou classificado como
árbitro profissional de MMA. Em 2012 já participei de três eventos de Nelsinho
Monstro, em Barra do Pirai. 27. SÓ CASCA – Que eventos são estes? 28. MARCELLO
DEODORO - Monster Fighter, Gladiator Fighter, bons eventos, sou árbitro também
de Muai Thay, minha vida é isso eu concilio minha carreira militar com o boxe.
Há pessoas, minoria, que me criticam e cobram minha atuação somente no boxe,
chegaram até me acusar de indecisão, mas acho uma visão equivocada, é importante
sim, especialmente para as lutas que têm alguma afinidade com o boxe, aquelas
de trocação, soco. Eu não tenho restrição com outras artes marciais ou muito
menos com outras academias. Levo o Corpo de Fuzileiros da Marinha para treinar
na Academia Delfim, nos eventos da Federação e da Confederação Brasileira de
Boxe, vou a campeonato brasileiro. Fiz cursos e estou atento, não para mudar,
porém para conhecer e saber o quê está acontecendo. 29. SÓ CASCA – Se olharmos
o passado, é talvez fácil constatar que os esportes de combate têm o seu
momento, quer dizer, são moda. Foi assim o karatê, o jiu-jitsu, agora o MMA,
como foi na verdade o próprio boxe, o senhor concorda? 30. MARCELLO DEODORO - O
boxe fala por si só. Ele é uma coisa secular, ele não tem que ser associado ao
MMA, quando você fala no MMA é uma mistura de artes marciais, e quando fala em
boxe fala em regras, com dois referenciais, profissional e olímpico. O MMA hoje
tem a representatividade que tem por causa do marketing, soube aproveitar mais
ainda que o próprio boxe. O boxe no Brasil é fraco no que diz respeito a essa
divulgação, não há revistas, não há mídia fazendo o quê faz com MMA. Há sim uma
indústria na mídia para divulgar o MMA, 24 horas, o tempo inteiro falando e
vendendo, fustigando o MMA, o tempo inteiro, para que ele não fique esquecido,
como se alguém ficasse dizendo o tempo inteiro “mma, mma, mma...” . Ele é sem
dúvida importante, mas o boxe não é menos importante. 31. SÓ CASCA – Vamos
agora falar de um assunto tratado com estrondoso silêncio nesses meios de
comunicação que como o senhor diz “fustigam” o MMA o tempo inteiro nas mídias:
Por que há uma diferença tão grande nas bolsas dos lutadores de boxe e do MMA ?
32. MARCELLO DEODORO – A coisa é realmente contraditória porque no MMA as empresas
que ficaram responsáveis por captar recursos, descentralizaram isso, e
conseguem muito mais dinheiros que o próprio boxe, e mesmo assim, há exemplos
absurdos. Veja, Mike Tyson na época de ouro chegou a receber U$ 30 milhões de
bolsa por luta, Jr Cigano ganhou U$ 400 mil dólares na luta em que perdeu o
cinturão em 2012. Quatrocentos Mil dólares não são pouca coisa... mas se
comparados a 30 Milhões ... Eu posso até concordar com o que você diz que os
lutadores de MMA (os empregados) não têm a organização e o poder de barganha
que possuem os lutadores de boxe através de seus empresários. Veja, não sabemos
o contrato que Dana White tem com seus lutadores. Se você não se adequar a
realidade de seu trabalho, não tiver outra opção para ganhar melhor, o negócio
é baixar a cabeça, admitir... enfim é uma empresa o patrão diz não interessa
que ele ganhe um trilhão, você vai ganhar o que ele determinar, porque ele fez
você chegar até lá, diferente do boxe onde há regras estatutos, como por
exemplo, da Associação Internacional de Boxe Amador, há cargos eletivos e não
vitalícios. 33. Só Casca ! – Por falar em patrocínio, como é ele no Brasil para
o boxe? 34. Marcello Deodoro – O que posso te afirmar é que o boxe profissional
no Brasil não dá tanto quando o Olímpico, o que também é muito contraditório
porque o boxe Olímpico é amador, seu combate sua arbitragem é toda especial
para proteger mais os lutadores que são considerados, ao menos hipoteticamente,
amadores. Os combatentes lutam com proteções e a participação interventiva do
árbitro para protegê-los é muito maior. 35. Só Casca ! – Desculpe, não entendi
o que tem haver isso com o patrocínio? 36. Marcello Deodoro – Tudo. Os
patrocinadores optam pelo esporte amador porque é ele que tem visibilidade nos
jogos internacionais, já que não há público interno, mercado consumidor para o
boxe no Brasil. Por isso no boxe amador você tem o patrocínio Petrobras, da
Nissan, até mesmo as políticas públicas seguem esse rumo, temos o Bolsa Atleta
do Governo Federal, temos situação dos militares no boxe, veja um atleta cabo
ganha R$ 2100, um atleta militar soldado, R$ 1300. Salário de militar se ele
ficar treinando. Tenho ainda um “as” na manga, que eu não posso falar, por ora,
mas em breve haverá uma coisa muito melhor nas forças armadas. Então
prosseguindo, o fato é que para o atleta brasileiro vale mais a pena ele ser
amador que ser profissional. Se for boxeador profissional no exterior vale a
pena, mas no exterior. Um atleta de boxe de ponta pode chegar até R$ 10.000 por
mês, com soma dos patrocínios e o salário da marinha; já o boxeador
profissional que só lute no Brasil não tenho ideia que esteja bem. Daí quando
você vê um lutador amador no Brasil observa que eles são na prática profissionais, de alto
rendimento, mas treinam na campo
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