terça-feira, 24 de setembro de 2013

HQ traz história chocante e real de pugilista polonês

OS  fãs brasileiros de quadrinhos já sabem: Reinhard Kleist é aquela fera alemã que fez Cash, Castro e Elvis (todos pela editora gaúcha 8Inverso), biografias em HQ que se leem como romances, de tão fluidas e sensíveis que são. Agora, o homem volta com o que talvez seja seu melhor trabalho: O Boxeador: A História Real de Hertzko Haft.
Aqui, ele traz à tona mais um aspecto cruel da 2ª Guerra Mundial: as lutas clandestinas de boxe nos campos de concentração, nas quais o vencedor continuava vivo e o perdedor era sumariamente executado.
Adaptado a partir do livro do filho de Hertzko, Alan Haft, O Boxeador é, literalmente, um soco no estômago, chegando a lembrar, em alguns momentos, a obra-prima Maus (Cia das Letras), de  Art Spiegelman, graças à narrativa enxuta e à expressiva arte em preto & branco.
Entrevista exclusiva
Premiada com o Grand Prix 2013 do Festival de Quadrinhos de Lyon (França), a obra consolida a carreira e a fama de Kleist, que, aos 43 anos, desponta como um dos principais quadrinistas europeus contemporâneos. Nesta entrevista exclusiva para o Caderno 2+, o artista, nascido em Hürth, fala d'O Boxeador, suas escolhas de personagens, armadilhas narrativas, fatos versus ficção, carreira, influências artísticas, quadrinhos alemães e sua recente passagem pelo Rio de Janeiro.
O que atraiu sua atenção para a história de Hertzko Haft? Confesso que nunca havia ouvido falar nessas lutas de boxe em campos de concentração....
Nem eu. Quando vi o livro de Alan Haft sobre seu pai em uma livraria de Berlim, me surpreendi com a capa e quis saber mais. Me vi nessa incrível história, que ficou em minha cabeça por um bom tempo, ainda que eu me recusasse a contá-la em graphic novel. Seria muito difícil. O personagem principal não é um cara legal, a história é dividida em duas partes e eu achei que a segunda não era muito forte. Depois de um tempo, percebi que esses pontos eram justamente os mais desafiadores. Como posso contar essa história de forma que simpatizemos com Hertzko, apesar dele matar pessoas? E será que a segunda parte não seria ainda mais emocionante, porque ficaríamos curiosos em saber se ele seria feliz no final? E é surpreendente o quanto desejamos que ele seja feliz, apesar de ser um personagem tão malvado.
Haft teve de matar para sobreviver, mas você evitou julgá-lo, deixando as conclusões para o leitor. Como se evita esse tipo de armadilha narrativa?
Eu sempre tento deixar claro ao leitor por que o personagem faz o que faz. Quando ele atira no casal de idosos, eu escrevi ao Alan para perguntar o que ele achava que seu pai estava pensando naquele momento. A resposta foi: nada. Para Hertzko, eles eram apenas alemães. Você deve entender isso à luz do que ele passava no momento.
O Boxeador tem grande potencial para o cinema. Há chances?
Alan me contou que uma produtora americana quer fazer um grande filme d'O Boxeador. Não sei mais detalhes.
Elvis, Cash, Castro, Haft. Que outro personalidade você abordará em seguida? Pode nos revelar ao menos um? Por quê?
Depois d'O Boxeador, reiniciei um antigo projeto chamado Berlinoir, sobre vampiros em Berlim, algo totalmente diferente. Agora trabalho na história de uma esportista somali que participou das Olimpíadas de 2008 e, infelizmente, morreu ano passado. Seu nome era Samia Yusuf Omar e sua história é extremamente tocante. Depois,  faço outro  músico.
Suas biografias em HQ já abordaram um polonês, um cubano e dois norte-americanos. Se fosse escolher um alemão, quem seria? Por quê?
É bem óbvio que não estou escolhendo personagens alemães. Temos uma grande história. Não costuma ser um processo intencional, as histórias chegam a mim meio que por acaso. Eu as encontro enquanto pesquiso outras histórias ou, no caso de Fidel Castro, foi um projeto da minha editora, a Carlsen, que queria um livro de viagem e eu escolhi ir a Cuba. Aproveitei a oportunidade para pesquisar sobre Castro.
Sua opção em contar histórias de pessoas reais é por considerar a realidade muito mais interessante do que a ficção?
Neste momento, acho histórias reais mais desafiadoras. Gosto do processo de pesquisar e combinar fatos e ficção. Quando você conta uma história como esta, é você que precisa preencher os espaços entre os fatos e dar ao leitor uma sensação de como foi estar ali. Estar nas florestas com os revolucionários ou em um palco com Johnny Cash. É um tipo de  "verdade sentida", como definiu (o escritor alemão) Volker Skierka.
Aqui no Brasil, fora seus trabalhos, conhecemos muito pouco dos quadrinhos alemães contemporâneos. Que autores você nos recomendaria?
A cena de HQ alemã se desenvolveu muito nos últimos anos. De fato, os quadrinhos alemães têm se tornado cada vez mais populares mundo afora. Aqui estão alguns artistas cujo trabalho eu  aprecio e que deveriam ser descobertos no Brasil. Isabel Kreitz, ótimo estilo em preto & branco (e tudo no lápis!). Barbara Yelin, de estilo muito expressivo, conta histórias muito sensíveis. Thomas von Kummant, grande trabalho de arte, com histórias de orientação mais para a ficção científica/fantasia. Uli Oesterle, faz histórias sombrias em um estilo bem na linha do Mike Mignola (Hellboy).
Muitos artistas europeus trabalham para  empresas norte-americanas como a Marvel e a DC. Alguma dessas já te convidaram? Você o faria? Por quê?
Não. Há alguns anos, estive em Nova York para conversar com a DC, mas eles se recusaram a trabalhar comigo. Agora eu também não o faria mais. Estou muito "mimado", sendo meu próprio autor. E também porque não consigo trabalhar dentro daqueles prazos apertados lá deles. Eu me sentiria muito limitado. Me sinto mais como um artista e autor do que como provedor de arte para essas empresas. Mas, veja bem, eu definitivamente adoraria desenhar o Batman ao menos uma vez...
Quais foram os artistas que o influenciaram e o inspiraram?
No início da minha carreira, eram os artistas mais visuais, como Dave McKean (capista de  Sandman), Kent Williams (Blood: Uma História de Sangue) ou Bill Sienkiewicz (Elektra: Assassina). Mas as histórias sofriam muito com minhas tentativas de ser tão bom quanto eles. Agora eu me foco mais na narrativa e coloco a arte completamente a serviço da história. Não quero impressionar ninguém com uma imagem, eu quero criar algo como um filme na cabeça dos leitores. Então, hoje minha inspiração vem mais de Will Eisner (Spirit), Baru (Hervé Barulea, quadrinista francês) ou Hugo Pratt (Corto Maltese).

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