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História do Boxe Brasileiro
Primeiros vestígios do boxe no Brasil
No início do sec. XX, a prática desportiva era quase
totalmente desconhecida no Brasil. Os raros esportistas limitavam-se a membros
das comunidades de emigrantes alemães e italianos, no Rio Grande do Sul e em São
Paulo. Foi só com eles que foi introduzida, entre nós, a ideai de competição
esportiva entre dois homens ou entre equipes, principalmente em modalidades
como natação e canoagem.
Além dessa falta de tradição esportiva, outra
característica desfavorecia a introdução do boxe no Brasil: no final do sec.
XIX e início do XX, lutar era sempre associado a coisa de capoeiristas e,
então, à marginalidade. Esse preconceito era especialmente forte entre os
membros da elite dirigente do país.
As primeiras exibições de boxe em solo brasileiro
ocorreram naquela época e só reforçaram esse preconceito: foram feitas por
marinheiros europeus, que tinham aportado em Santos e no Rio de Janeiro, e
naquela época os marinheiros eram recrutados das classes mais humildes.
Em 1913: a primeira lição
Em 1913, travou-se a mais antiga luta de boxe em
território brasileiro que ficou documentada. Tratava-se apenas de uma luta de
exibição - ou de desafio, não se tem certeza pois os testemunhos da época
divergem nesse detalhe - em São Paulo, entre um pequeno ex-boxeador
profissional que fazia parte de uma companhia de ópera francesa e o atleta Luís
Sucupira, conhecido como o Apolo Brasileiro em razão de seu físico avantajado.
Embora surrado, o nosso Apolo reconheceu que a técnica
pode superar a força e tornou-se um grande entusiasta do boxe e seu primeiro
grande divulgador. Dado seu prestígio, era médico e filho de conceituada
família, seu apoio em muito contribuiu para atenuar o preconceito que já
mencionamos.
O boxe é divulgado e legalizado no Brasil
A propaganda de Sucupira entusiasmou alguns jovens que
eram membros da tradicional Societá dei Canotiere Esperia, de São Paulo, os
quais tentaram incluir o boxe entre as atividades dessa associação; esse
esforço durou entre 1914 e 1915, e parece não ter frutificado.
A real divulgação iniciou apenas em 1919, com Goes Neto,
um marinheiro carioca que havia feito várias viagens à Europa, onde havia
aprendido a boxear. Naquele ano de 1919, Goes Neto retornara ao Brasil e
resolveu fazer várias exibições no Rio de Janeiro. Com as mesmas, um sobrinho
do Presidente da República, Rodrigues Alves, se apaixonou pela nobre arte. O
apoio de Rodrigues Alves facilitou a difusão do boxe: começaram a surgir
academias e logo esse esporte ganhou a áurea da "legalidade", de
esporte regulamentado, com a criação das "comissões municipais de
boxe" em São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. Isso tudo, entre 1920 e 1921.
Os primeiros treinadores competentes: início da década
dos 20's
Até 1923, os treinadores eram improvisados. A situação só
começou a melhorar quando Batista Bertagnolli estabeleceu-se, em 1923, como
organizador de lutas no Clube Espéria, de São Paulo. Bertagnolli, que havia
aprendido boxe na Europa, muito bem soube usar seus conhecimentos fazendo um
controle de qualidade nas lutas realizadas todos os domingos naquele importante
clube da Ponte Preta. O reconhecimento do público foi imediato, passando a
lotar as dependências do Espéria.
Contudo, a primeira pessoa que hoje seria considerada um
treinador foi Celestino Caversazio. A dívida do boxe brasileiro para com
Carvesazio é imensa e, se tivermos que apontar sua principal contribuição,
diríamos que foi ser professor dos primeiros treinadores importantes do Brasil:
os irmãos Jofre, Atílio Lofredo, Chico Sangiovani, etc.
Ainda em 1923, no Rio de Janeiro, foi criada a primeira
academia de boxe no Brasil: era o Brasil Boxing Club que muito difundiu o boxe
entre os cariocas.
Em 1924: a tragédia Ditão e consequências
Entre 1908 e 1915, o boxeador negro Jack Johnson deteve o
cinturão de campeão mundial dos pesados e muito humilhou os brancos que o
desafiaram. Uma consequência disso foi os dirigentes americanos proibirem os
cinemas de passarem fitas ou noticiários com lutas de boxe. Em 1915, Jess
Wilard derrotou Johnson e assim passou o cinturão para a raça branca. A partir
daí e, principalmente, a partir de 1919, quando Jack Dempsey - outro branco -
derrotou Wilard e passou a fazer defesas de título com públicos de dezenas de
milhares de pagantes, os filmes de boxe foram liberados novamente.
Logo esses filmes chegaram nos cinemas brasileiros e
despertaram em nossos jovens e empresários do boxe uma imensa ganância. Todos
ficaram sonhando com o fácil enriquecimento através do boxe. Jovens que nunca
haviam feito nenhuma luta, saiam do interior do país e iam para São Paulo ou
Rio de Janeiro com vistas a se tornarem profissionais do boxe.
Foi então que, no final do ano de 1922, Benedito dos
Santos "Ditão" iniciou a treinar boxe numa academia de São Paulo.
Ditão era um negro de porte gigantesco, enorme aptidão para o boxe e um direto
irresistível. Em um par de meses, já no início de 1923, estreiava como
profissional e, sem nenhuma dificuldade, derrotou seus três primeiros
adversários, todos no primeiro round. Se somarmos o tempo total de luta desses
três combates, não chegaremos a três minutos. Era essa a experiência
profissional de Ditão.
Como depois relatou o técnico Atílio Lofredo, "Todo
o mundo estava enlouquecido de entusiasmo com Ditão; seus três fulminantes
nocautes levaram todos a acreditar que nenhum homem do mundo poderia resistir à
sua pancada devastadora". Não menor era o entusiasmo dos empresários da
época, os quais viram uma chance milionária quando passou pelo Brasil o campeão
europeu dos pesados, Hermínio Spalla, que tinha ido até à Argentina enfrentar o
legendário Angel Firpo.
Rapidamente, foi organizada uma luta entre Ditão e Spalla
que rendeu 120 contos de réis, uma fortuna para a época. O início da luta foi
quase de encomenda para a platéia: já de saída, Spalla foi derrubado pela
potentíssima direita de Ditão. O público foi ao delírio, mas não era por nada
que Spalla tinha mais de sessenta lutas com adversários de nível internacional.
O italiano levantou-se e a partir do terceiro round iniciou a demolir Ditão.
Esse, qual leão ferido, tentou resistir mas acabou caindo no nono round. Teve
um derrame cerebral, mas sobreviveu para terminar seus dias como inválido.
Imediatamente após a derrota de Ditão, os jornais
iniciaram uma campanha contra o boxe, o que levou o governador de São Paulo a
proibir sua prática. Mas não ficou só nisso o impacto da tragédia de Ditão: por
quase dez anos, os empresários brasileiros ficaram receosos de trazer
boxeadores estrangeiros.
O período de ouro entre 1926 e 1932
Após revogada a proibição, em abril de 1925, o boxe
brasileiro voltou a crescer a partir das sementes lançadas pelos primeiro
treinadores competentes.
No período que se seguiu, entre os vários lutadores de
destaque, o maior ídolo foi o peso leve Italo Hugo, o Menino de Ouro. Entre
seus maiores feitos está o nocaute, em primeiro round, sobre o campeão
sul-americano dos leves, Juan Carlos Gazala, em 1931.
Em 1932, tivemos novo impasse: a Revolução de 32
paralisou tudo.
Década dos 30's
O acontecimento marcante desse período foi a criação das
federações de boxe - carioca, paulista, etc - com as quais se deu condições de
os boxeadores profissionais brasileiros disputarem oficialmente títulos
internacionais e os amadores poderem participar de torneios e campeonatos
internacionais.
Como consequência, já em 1933, fomos pela primeira vez a
um campeonato internacional: o Sul-Americano de Boxe Amador, que se realizou na
Argentina. A seleção brasileira era composta apenas de cariocas, pois que
somente Rio de Janeiro tinha boxe legalizado através de federação.
Tínhamos, contudo, um grande caminho a percorrer. Nessa
época, o boxe de nossos vizinhos argentinos, uruguaios e chilenos era tão
superior que considerávamos uma façanha perder "apenas" por pontos
para um deles...
Época do Ginásio do Pacaembu
Esse ginásio foi criado em 1940 e nele, pela primeira
vez, podia-se ver lutas de brasileiros com nível verdadeiramente internacional.
Os mais destacados deles foram: Atílio Lofredo e Antônio Zumbano ( o
"Zumbanão" ).
Zumbanão foi o primeiro grande astro do boxe brasileiro,
imperando absoluto por um longo período: de 1936 a 1950, durante o qual
realizou cerca de 140 lutas, mais da metade das quais ganhou por nocaute. Era
um peso médio de grande poder de punch e não menor capacidade de esquiva.
Verdadeiro ídolo, arrastava multidões ao Pacaembu.
O início do boxe moderno: anos 50's
Esta foi uma nova época de ouro para o boxe brasileiro:
grandes espetáculos, nacionais e internacionais, e uma imensa galeria de
astros. Um dos elementos decisivos para isso foi a ação do primeiro
mega-empresário do boxe brasileiro, Jacó Nahun.
Além de ter lançado alguns dos grandes nomes do boxe
brasileiro - como Kaled Curi, Ralf Zumbano e Éder Jofre -, Jacó Nahun conseguiu
um intercâmbio com os dirigentes do Luna Park, o maior ginásio de boxe da
América do Sul, com o que centenas de boxeadores argentinos vieram lutar no
Pacaembu e, posteriormente, no Ginásio do Ibirapuera. Isso foi uma excelente
escola que contribuiu decisivamente para o amadurecimento do boxe brasileiro.
Na época, tivemos tantos bons boxeadores que fica até
difícil destarcamos alguns deles sem correr risco de fazer injustiça. Por
razões de espaço, apontaremos apenas quatro deles os quais se não forem
unanimidade certamente estarão em qualquer lista de "os mais importantes
da época":
Kaled Curi, o "Beduíno"
peso galo dotado de fortíssima esquerda; frequentemente
lutava com adversários de várias categorias acima, sendo que travou muitas
lutas verdadeiramente antológicas; como amador, chegou a campeão latino-americano
e como profissional foi campeão brasileiro; podia ter ido além se não se
envolvesse tanto com questões administrativas das federações e com a PROMOÇÃO
de lutas; após parar de lutar, dedicou-se a empresariar boxeadores e promover
eventos de boxe profissional.
Ralph Zumbano, o "Bailarino"
peso leve de pouca "pegada" mas estilo,
esquiva, técnica e jogo de pernas elogiadas até internacionalmente; teve
carreira curta como lutador, passando a treinador de sucesso.
Luis Inácio, o "Luisão"
talvez, o maior meio-pesado brasileiro de todos os
tempos; extremamente popular por seu carisma, suas entrevistas folclóricas, sua
velocidade e poder de punch; foi o primeiro brasileiro a conquistar medalha de
ouro nos Jogos Panamericanos ( México 1955 ); como profissional, chegou a
campeão sul-americano dos meio-pesados, tendo feito inúmeras lutas
internacionais, inclusive com o legendário Archie Moore; sua popularidade
acabou sendo sua tragédia: ao subestimar o famoso campeão chileno Humberto
Loayza, numa troca de golpes, acabou sofrendo um violento nocaute; como era
bilheteria certa, os empresários nem lhe deixaram descansar, continuaram a lhe
promover lutas, as quais só agravaram a lesão que havia sofrido; o resultado
foi o esperado: Luisão acabou "sonado" ( ficou extremamente sensível
a qualquer golpe na cabeça e a exibir sintomas da chamada "demência
pugilística" ) passando a ser derrotado por qualquer um, inclusive em
brigas de rua com marginais; acabou morrendo como indigente e se tornando mais
uma triste lição para o boxe profissional brasileiro.
Paulo de Jesus Cavalheiro
Peso meio-médio, atuando profissionalmente entre 55 e 58.
Extremamente carismático, só perderia em popularidade para o Zumbanão. Já era
tratado como ídolo nos seus tempos de amador. Tinha grave problema cardíaco que
prejudicava muito sua atuação.
A década de Eder Jofre: os anos 60's
O maior boxeador brasileiro de todos os tempos nasceu em
uma família de pugilistas: tanto por parte do pai ( família Jofre, oriunda da
Argentina ) como por parte da mãe ( família dos Zumbanos ). Assim que Éder
Jofre, praticamente, nasceu dentro do ringue e desde cedo aprendeu as
"manhas" da nobre arte.
Desde muito cedo exibia características que acabaram lhe
colocando num lugar de destaque na história do boxe mundial: tinha como
principal arma um fortísssimo gancho de esquerda ( vide foto ao lado ), e uma
igualmente arrasadora direita; não menos importante era sua grande inteligência
que lhe permitia modificar o estilo de luta segundo o adversário.
Estreiou como amador aos 17 anos de idade, em 1953. Em
seus quatro anos de competição entre os amadores não conseguiu nenhum título de
importância internacional. Seu sucesso só viria explodir como profissional,
carreira que iniciou aos 21 anos, em 1956.
Já em 1958 tornou-se campeão brasileiro dos pesos galo.
Contudo, o sucesso internacional não foi tão rápido. Para isso foi fundamental
o trabalho de seu empresário, Jacó Nahun. Esse, usou sua experiência para
construir uma "escadinha" que permitisse Éder fazer um renome
internacional e assim poder esperar por uma chance de disputar o título
mundial. Essa chance começou a ficar mais próxima em 1960, quando Jacó Nahun
conseguiu a inclusão de Éder entre os dez primeiros do ranking de galos da NBA
( a associação que mais tarde deu origem a atual WBA=Associação Mundial de Boxe
). Atingindo esse ponto, Éder trocou de empresário ( Nahun, magoado com a
"traição", abandonou o boxe ) e foi lutar nos USA, onde fêz três
lutas que melhoraram sua posição no ranking. Ainda nesse mesmo ano de 1960,
finalmente, materializou-se a oportunidade de disputa pelo título mundial
quando o então campeão mundial dos galos, Joe Becerra, renunciou ao seu título
depois de ter causado a morte de seu último adversário. Com isso, no final de
1960, acabou sendo marcada uma luta pelo título vago entre Éder e o mexicano
Eloy Sanchez. Éder Jofre precisou de apenas seis rounds para se adonar do
cinturão.
Contudo, Éder ainda não havia chegado ao topo, pois a
União Européia de Boxe não reconhecia os campeões da americana NBA. Foi só em
1962 que surgiu a oportunidade de uma luta pela unificação dos pesos galo,
entre Jofre campeão pela NBA e Johnny Caldwell campeão pela UEB. Essa luta foi
travada no ginásio do Ibirapuera, com um público record de 23 000 pessoas. Éder
massacrou o irlandês Caldwell e se tornou o undisputed champion dos pesos galo.
Jofre defendeu com sucesso seu cinturão por sete vezes,
até 1965, não fugindo de nenhum adversário, por mais perigoso que esse fosse.
Contudo, seu maior inimigo crescia a olhos vistos: era seu excesso de peso, que
lhe fêz realizar várias lutas muito desidratado e até mal alimentado. Apesar
disso, pressionado de vários lados, Éder preferiu não subir para a categoria
dos pesos pena. A decisão foi errada: em 1965 foi vencido pelo maior boxeador
japonês de todos os tempos, Masahiko "Fighting" Harada. No ano
seguinte, o japonês concedeu revanche e venceu novamente. Com isso, Jofre
declarou sua aposentadoria. Tinha 10 anos de profissionalismo e estava com 30
anos, o que é considerada uma idade avançada para um boxeador da categoria dos
galos.
COMO PESO galo, Éder Jofre recebeu as maiores distinções:
em eleição promovida pela mais conceituada publicação de boxe do mundo, The
Ring Magazine, os leitores dessa revista elegeram Éder Jofre como um dos dez
melhores boxeadores do século XX; foi o primeiro boxeador não americano
indicado para o Hall of Fame do boxe; etc.
Epoca da penúria: 70's
O sucesso do peso galo Éder Jofre motivou o surgimento de
muitos boxeadores brasileiros. Entre esses, os mais destacdos foram:
Servílio de Oliveira
peso mosca de estilo brilhante, golpes e esquivas de
precisão milimétrica; por muitos, é considerado o melhor boxeador já surgido no
Brasil; estreiou em 1968 nos amadores e já no mesmo ano conseguiu o maior feito
do boxe amador brasileiro até então: medalha de bronze nas Olimpíadas; em 1969
estreiou nos profissionais onde atuou até 1971, fazendo várias lutas
internacionais, a maioria com boxeadores sul-americanos; em 1971, em luta com um
mexicano, sofreu um deslocamento de retina que o deixou praticamente cego do
olho direito e o fêz abandonar sua muitísssimo promissora carreira; em 1976,
tentou voltar, chegando a fazer algums lutas internacionais, mas na primeira
disputa de título, sofreu impedimento médico e abandonou de vez o esporte.
Miguel de Oliveira
iniciou no profissionalismo na mesma época que Servílio e
se destacou por ser um peso médio-ligeiro de soco potente, especialmente quando
desferia o hook no fígado, e de ser dotado de grande inteligência; em 1973 já
tinha 29 lutas e teve sua oportunidade na disputa pelo título mundial pelo CMB;
em 1975 teve nova chance, agora com sucesso, arrebantando o cinturão mundial
pelo CMB do espanhol José Duran; infelizmente, mal orientado, perdeu o título
já na primeira defesa.
O terceiro boxeador importante dessa época foi,
novamente, Éder Jofre, que, premido por dificuldades financeiras, voltou a
boxear em 1970, agora nos pesos pena. Éder continuou a brilhar e em 1973
conquistou o título mundial do CMB, infelizmente não tão importante quanto o
que tinha ganho como galo. Também não teve sorte com seu empresário que acabou
deixando-o em inatividade por tempo excessivo o que fêz com que o CMB o
destituísse do título. Apesar de não ser mais campeão, ele continou a lutar,
sempre invicto até 1976, quando encerrou definitivamente sua carreira, aos 40
anos de idade. Ao longo de sua vida de profissional, realizou 78 lutas, sendo
que ganhou 50 por nocaute e teve apenas duas derrotas, ambas por pontos e para o
histórico Masahiko "Fighting" Harada.
Assim que, quase simultaneamente, tivemos a aposentadoria
de três dos maiores lutadores brasileiros de todos os tempos: Jofre, Servílio e
Miguel de Oliveira. Isso e a transmissão dos jogos de futebol pela TV funcionaram
como uma ducha fria no boxe brasileiro, que mergulhou num período bastante
negro, de ginásios vazios e poucas perspectivas.
O fenômeno Maguila e o ressurgimento do boxe
No início dos anos oitenta, pela primeira vez no Brasil,
uma rede de TV ( a TV Bandeirantes ), por iniciativa de seu diretor de esportes
( Luciano do Valle, o qual também atuava como promotor de eventos esportivos,
através de sua empresa, a Luque Propaganda, Promoções e Produções ), resolveu
investir pesado no boxe, transformando-o em espetáculo de massa.
Os primeiros boxeadores feitos pela TV brasileira,
Francisco Thomás da Cruz ( peso super-pena ) e Rui Barbosa Bonfim ( meio-peaso
), tiveram relativo sucesso, mas foi só com Adislon "Maguila"
Rodrigues que as transmissões de lutas de boxe pela TV alcançaram absoluta
liderança de audiência.
Maguila, com 1,86 metros e cerca de 100 Kg, foi um dos
poucos pesos pesados brasileiros. Tinha grandes elementos para ser um ídolo:
enorme carisma aliado à grande valentia, mobilidade e uma direita demolidora
que lhe propiciou nada menos do que 78 nocautes em sua carreira de 87 lutas, a
maioria das quais com lutadores europeus, sul-americanos e norte-americanos.
Maguila estreiou como profissional em 1983, tendo Ralph
Zumbano como técnico e Kaled Curi como empresário. Em 1986, já no auge da fama,
assinou contrato com a Luque e passou a treinar com Miguel de Oliveira que
alterou profundamente seu estilo de luta e corrigiu seus defeitos de defesa.
Como consequência, em 1989, chegou a ser o segundo colocado no ranking do CMB e
em rota de colisão com Mike Tyson, na época, o undisputed champion do mundo.
O grande momento, contudo, nunca ocorreu. Precisou
enfrentar dois dos maiores pesados do século XX: Evander Holyfield e George
Foreman. Perdeu essas duas lutas e isso lhe tirou não só a chance de disputar o
título como o encaminhou para a obscuridade. Para piorar, Maguila aumentou
muito de peso, perdendo a forma física. Apesar disso, em 1995, chegou a campeão
mundial pela WBF ( Federação Mundial de Boxe ), uma associação que ainda não
havia conseguido grande respeitabilidade. Com falta de patrocínio, pouco tempo
depois, Maguila foi destituído do título por inatividade.
Com o ocaso de Maguila, também veio o do boxe brasileiro
que rapidamente perdeu o enorme espaço que havia tido na televisão.
No final dos anos noventa, surgiu uma nova promessa:
Acelino de Freitas, o Popó. Patrocinado pela Rede Globo de televisão, Popó
chegou ao título de campeão mundial pelo WBO . Ainda é cedo para avaliarmos a
posição que lhe reservará a História.
Comentários finais:
O texto acima é apenas uma tentativa de resumir a história
do boxe brasileiro. Para se fazer justiça aos mais de 10 000 boxeadores
profissionais que atuaram no período seria necessário um longo livro.
Fonte: Site da Federação Rio Grandense de Boxe
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