Diogo Wolitz



Pô...O Cara merece,vai!
LONDRES - Por trás da melhor campanha da história do boxe brasileiro em uma Olimpíada está um treinador de 53 anos nascido em Guiné Bissau, formado em educação física em Cuba e que se apaixonou pelo Brasil e por uma brasileira, com que hoje é casado, e nunca mais saiu de lá. João Carlos Barros é um dos vértices do sucesso dos pugilistas do país nos Jogos Olímpicos, que se despedem neste sábado da Excel Arena com três medalhas.

A conquista apenas nos Jogos de Londres é o triplo que o Brasil fez em toda a sua história olímpica. Se até então, Servílio de Oliveira era uma figura solitária no boxe olímpico com o seu bronze na Cidade do México-1968, este ano ele ganhou a companhia de mais dois medalhistas de bronze: Adriana Araújo e Yamaguchi Falcão.

E agora o irmão de Yamaguchi, Esquiva Falcão pode se tornar o primeiro campeão olímpico do Brasil na categoria. Neste sábado, ele enfrenta o japonês Ryota Murata, às 17h45m (de Brasília).

João é uma imagem da satisfação com a evolução do boxe brasileiro desde que ele chegou para treinar a equipe em 1996. Ele lembra que o cenário do esporte no país era de terra arrasada. Embora ressalve que o boxe ainda está longe do ideal e precise de mais investimentos, os tempos muito difíceis ficaram no século passado.

- Quando eu cheguei não tínhamos nada. Treinávamos em Santo André numa área cedida para a gente. Ficava debaixo de um teto. Não tinha nada. Era zero - recorda.

Foi ainda vivendo essa realidade que o boxe foi para Winnipeg, no Canadá, para a disputa do Pan de 1999. Voltou com duas medalhas de prata e duas de bronze, mas a real situação dos pugilistas foi mostrada no ano seguinte, nos Jogos de Sidney, quando o Brasil teve seis representantes e apenas dois deles chegaram na segunda rodada e foram derrotados.

O trabalho ainda estava no início. Um Centro de Treinamento foi construído em São Paulo para dar melhores condições de trabalho aos atletas. Além disso, intercâmbios com pugilistas do exterior foram organizados. Tudo para que o boxe começasse a produzir frutos.

- Fizemos 17 viagens para a Europa. E viamos nessas viagens quem tinha mais capacidade. Com isso, cada um fazia o seu trabalho cada vez melhor - conta o presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe), Mauro José da Silva, cuja gestão, porém, não é uma unanimidade, como mostrou recentemente a medalhista olímpica Adriana Araújo, que fez duras críticas ao dirigente.

Mas João seguiu no trabalho com a equipe, que começou a dar respostas. No Pan do Rio, em 2007, oito medalhas foram conquistadas. Uma de ouro, uma de prata e uma de bronze. Em Guadalajara, no ano passado, foram sete medalhas (duas pratas e cinco bronzes). Prata no Rio e bronze no México, Everton Lopes, no ano passado seria o responsável pelo grande título do boxe amador nos últimos tempos com a conquista do mundial de Baku, no Azerbaijão, na categoria dos meio-leves.

Para Londres, o Brasil levou a maior delegação da história. E João conta que o resultado só não foi melhor por pequenos detalhes.

- Se o Everton não perde na primeira luta (para o cubano Roniel Iglesias), ele chega na final. Se o Robson não tivesse pego um cara da casa (Josh Taylor, na categoria leve), ele também pegaria medalha - disse o treinador, que compara a evolução do boxe com a do judô. - Do nada, começou a ganhar medalha.

Confiança em Esquiva

Sobre a luta deste sábado, João mostra confiança na vitória de Esquiva. Ele diz que o lutador japonês será um adversário mais complicado do que o inglês Anthony Ogogo na semifinal, mas traçou duas estratégias possíveis para superar Murata.

- A primeira é ir para o pau a pau com ele, ou seja, se ele quiser se defender, a gente vai se defender também. E levar a decisão para o último round. Outra estratégia possível é tentar somar o maior número de pontos possíveis e não deixar que o japonês marque muito no último round - explicou.

João acredita que Esquiva está muito bem preparado e tem condições de conquistar o ouro.

- O japonês é um pouco chato, duro, gosta de dar muito gancho. Será importante não entrar no jogo dele, sair dos golpes e trabalhar a movimentação de pernas.

Para o técnico, o sentimento de revanche de Esquiva, que foi derrotado por Murata na semifinal do Mundial do ano passado, pode ser positivo na luta.

- Um atleta tem que ter sempre essa gana de vencer, esse desejo de ganhar. Quem não tem isso, quando chegar lá em cima, não vai ganhar.

Previsão otimista para 2016

Em Guiné Bissau, o treinador lembra que o boxe era muito rudimentar. Foi em Cuba que tudo mudou e ele deu um salto no aprendizado. Como ele mesmo disse após a vitória de Esquiva na semifinal, "saiu de A para Z" num salto de qualidade. O próximo passo, seria treinar o campeão mundial Manuel Mantilla.

Agora ele está prestar a ver mais um pupilo ser campeão. E para o futuro, suas previsões são otimistas. Ele acredita que a equipe olímpica brasileira pode continuar se desenvolvendo e ter um desempenho ainda melhor no Rio daqui a quatro anos.

- O time é um pouco jovem na idade, mas maduro na experiência. Podemos perder ou ganhar de qualquer um. Nós só tendemos a crescer. Em 2016, podemos decidir tudo com Cuba - encerrou.

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